brasil

Diferente da realidade encontrada em países industrializados, no Brasil praticamente não existe segregação na origem e, com isso, os resíduos urbanos são coletados totalmente misturados, assim como acontece em quase todos os países da América Latina, África e Leste Europeu.

Nestes países, apenas uma fração muito pequena dos resíduos domiciliares é reciclada (não mais de 5% do total), e isto graças ao esforço de trabalhadores informais (catadores), que têm uma rotina diária arriscada e terrível, ao separar materiais recicláveis em meio a lixões a céu aberto ou no meio das ruas (fotos 1 e 2 abaixo) para garantir recursos mínimos para a subsistência de suas famílias.

3
Foto 1: catadores no lixão (por Janaina Carvalho/G1)
2
Foto 2: catador e o seu veículo de coleta (por Felippe Anibal)

Em países em desenvolvimento como o Brasil, o segmento industrial de plantas de tratamento de resíduos urbanos ainda é incipiente. Os resíduos domiciliares coletados misturados (coleta indiferenciada) são transportados até distantes aterros sanitários (ou lixões) onde são apenas enterrados, gerando custos (e emissões de CO2) elevadíssimos durante os serviços de coleta e transporte, e também durante a etapa de aterramento, quando pesados investimentos são necessários para captação, drenagem e tratamento do chorume e do gás metano (CH4), subprodutos altamente poluentes gerados quando os Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) são depositados nos distantes aterros sanitários.

Em função deste cenário atual nestes países, onde praticamente está tudo por fazer em termos de tratamento de resíduos (linha de base), existe uma oportunidade única para promover a redução de emissões de gases causadores do efeito estufa (GEE) neste importante setor da economia, através de investimentos em modernas plantas de tratamento de resíduos, que possibilitarão alcançar significativos ganhos ambientais, sociais e econômicos no curto prazo.

Por meio da implantação de Unidades de Tratamento Mecânico Biológico (TMB), os trabalhadores organizados em cooperativas podem realizar a catação manual de materiais recicláveis em esteiras de triagem (ver foto abaixo) em condições totalmente seguras (galpão coberto, uso de EPI, boas condições ergonômicas, etc.), garantindo assim maior produtividade.

1
Esteira de triagem de recicláveis

Importante registrar que as primeiras etapas (abertura dos sacos de lixo e a primeira separação granulométrica) do processo de tratamento dos resíduos misturados são feitas mecanicamente, através do uso de peneiras rotativas (trommels – ver abaixo), sem que exista o contato dos trabalhadores com os resíduos misturados.

4
Peneira rotativa (trommel) – abertura de sacos e 1º peneiramento

Ao final do processo de tratamento mecânico, os resíduos urbanos da coleta indiferenciada estão então subdivididos em três grandes frações (recicláveis, orgânicos e rejeitos), permitindo assim a recuperação de cada uma delas através do uso de tecnologia adequada.

Dependendo das características de cada projeto, uma combinação de tecnologias pode ser implementada, possibilitando uma redução de até 80% (ou mais) do volume de resíduos a serem transportados  para disposição final em aterros.

O cenário é claro: à medida que mais materiais são recuperados e/ou energia renovável é gerada em instalações de tratamento de resíduos instaladas dentro do perímetro urbano, existe uma grande redução do volume de resíduos ao final do processo de tratamento que possibilita diminuir os custos de transporte, seja pela redução da frota de caminhões necessária para realizar os serviços diários de coleta e transporte, seja pela menor distância de transporte percorrida para os caminhões descarregarem os resíduos coletados (até a planta de tratamento ao invés de irem até os distantes aterros).Também é importante considerar os outros ganhos sociais, ambientais e econômicos decorrentes dos custos que serão evitados quando se reduz os serviços de aterramento, incluindo a remediação futura da área.

Além de mais racional em termos econômicos, ao se investir em plantas de tratamento de resíduos dentro do perímetro urbano, é possível alcançar também a redução de emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE)  durante a realização dos serviços de gestão, tratamento e destinação final dos resíduos urbanos, permitindo assim a obtenção de Créditos de Carbono, que podem ser comercializados.

Caso a opção tecnológica seja por também implantar uma planta de recuperação energética a partir da queima dos rejeitos (fração não reciclável dos RSU) após os resíduos da coleta indiferenciada terem sido recebidos e processados em uma unidade de Tratamento Mecânico Biológico (TMB), então é possível ainda gerar energia renovável para abastecer residências ou a frota elétrica de veículos públicos.

Igualmente importantes são outros possíveis impactos positivos (sociais, ambientais e econômicos), tais como o estímulo à instalação de indústrias de reciclagem para fabricação de novos produtos a partir dos resíduos recicláveis selecionados em larga escala pelas cooperativas de catadores nas esteiras de triagem, a energia comercializada à valores subsidiados pela venda dos créditos de carbono obtidos pelo desenvolvimento do projeto de tratamento de resíduos, etc.

Em funções das metas estabelecidas no Acordo de Paris (COP 21), os acordos firmados no Pacto de Glasgow (COP 26), juntamente com as novas regulamentações legais e o aumento dos custos de energia, existe uma grande oportunidade para países em desenvolvimento, como o Brasil, recuperarem o tempo perdido até agora no segmento de tratamento de resíduos urbanos.

Start typing to see posts you are looking for.
Shop